Falemos agora de amizade, pois ela é uma virtude (ou implica uma) que é necessária à vida tanto dos mais ricos, pois de que adiantaria toda a riqueza se não tivesse amigos para compartilha–la, quanto para os mais pobres, pois para estes a amizade torna–se um refúgio.
A amizade ajuda os jovens, fazendo–os evitar os erros e escolherem os caminhos certos, e aos mais velhos, nas actividades que declinam com o passar dos anos. A amizade liga os pais com os filhos, é observada também nos outros animais, ela é a força que mantém as cidades unidas. Pode–se dizer que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade pois os homens amigos não necessitam de justiça. Além de necessária, a amizade é nobre pois louvamos os homens de muitos amigos, estes são considerados bons, porém existem vários debates relacionados com a amizade, há aqueles que dizem que só se é amigo dos seus semelhantes, enquanto outros defendem que “dois do mesmo ofício não se entendem”, vamos tentar definir as espécies e graduações de amizades, mas antes vamos olhar o amor, pois nem todas as coisas merecem ser amadas mas apenas o bom, o agradável e o útil. A benevolência quando reciproca torna-se amizade, e para serem amigas as pessoas devem-se conhecer uma à outra. As amizades não são acidentais, as pessoas são amadas por proporcionarem algum bem ou prazer e é por isso que as amizades se desfazem facilmente, pois quando uma das partes cessa de ser agradável ou útil a outra deixa de ama–la, este “útil” não é fixo mas muda constantemente; este tipo de amizade é comum nos velhos, pois estes buscam o útil, já nos jovens as amizades mais comum são aquelas que proporcionam o prazer pois este procuram acima de tudo aquilo que é agradável e as coisas imediatas, mas com o passar do tempo os prazeres mudam e estas amizades são substituídas rapidamente.
A amizade perfeita é aquela existente entre os homens bons e semelhantes nas suas virtudes, tais pessoas desejam o bem de modo igual, mutuamente, e as suas virtudes raramente mudam por isso estas amizades são as mais duradouras, praticamente permanentes, já que encontram um no outro todas as qualidades que os amigos devem possuir, amizades como estas são raras assim como homens assim também o são, além disso este tipo de amizade leva tempo e intimidade. Quando a amizade é por interesse é mais rapidamente configurada e neste a afinidade não é elemento base, o homem mau pode-se tornar amigo do bom e vice-versa, esta amizade é mais fraca, estes são menos amigos. Apenas a amizade entre os bons é invulnerável à calúnia pois dificilmente desacreditamos de alguém que durante muito tempo foi posto à prova, pois ali está a confiança, diferentemente dos outros tipos de amizade. A distância não faz desaparecer a amizade mas apenas a sua actividade, no entanto a ausência durante um logo tempo faz com que as pessoas esqueçam as suas amizades.
Existem amizades em que os envolvidos dão e recebem diferentemente, como a amizade de pai para filho, ou a de quem manda com a de quem obedece, ou a do marido para com sua esposa, esta não dá, o mesmo que recebe pois tem uma visão diferente, porém o amor trocado é proporcional.
Igualdade e semelhança formam a amizade, e amigos se firmam assim, amando sem esperar ser amado da mesma maneira e intensidade, que depende do relacionamento que os amigos tem entre si, os deveres de um pai para com seu filho não são os mesmo de irmãos entre si. Da mesma forma a justiça tem intensidades, pois é mais grave ferir um grande amigo do que um estranho, um filho a um desconhecido.
Existem três formas de amizade, a dos amigos iguais entre si, daqueles em que um é superior que o outro e daqueles que são amigos para tirar vantagem disso, que é a amizade com base na utilidade. A primeira é mais sólida, e difícil de se desfazer pois os amigos iguais ente si ficam juntos pelo amor comum existente entre eles, a segunda é bem menos sólida pois, por serem diferentes entre si o que é superior deverá receber mais e, proporcionalmente, o inferior menos.Mas o caso mais propenso a dissolução é o terceiro em que um ganha a cima do outro, pois quando uma das partes não fica satisfeita não há mais razão para a amizade existir.
Livro 8, Ética a Nicômaco de Aristóteles.
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